quarta-feira, 28 de abril de 2010

Mãe!





Escolhi em todas, uma, que um dia ia ser a minha guia.
Inocente, tentando entender o porquê de nascer,
e em seu seio sobreviver.

Continuei a observar esse olhar que sempre vinha a me admirar,
senti no calor da sua mão me acariciar.

Lá dentro não conseguia raciocinar
o porquê de esperar
nove meses para seu rosto observar.

Comecei a chutar,
e de alegria ela veio me acariciar,
senti seu amor me acalmar.

Quantos sonhos que eu imaginei sem ao menos gritar, ou falar,
mas meu coração veio chamar
essa pessoa que vem me carregar,
sinto que ela sabe o que é amar.

Dias passaram.
Ela me leva de um lado para outro sem reclamar,
eu não agüento esperar,
quero ver seu rosto me amar.

Fico triste porque ela precisa trabalhar
e seus pés inchar,
e meu peso aumentar,
e seu corpo transformar,
mas não deixo de sentir o seu jeito de me amar.

Queria dizer que seu esforço um dia eu vou recompensar,
que alegria eu ainda vou dar,
não consegui gritar,
mas um chute eu vou dar,
e ela de novo veio me acariciar,
tenho certeza que ela sabe
que eu vou amar.

Chorei de alegria por que ela sorria,
como se tivesse ouvido as minhas desculpas
por fazer do seu corpo meu lar,
e de seu coração o meu habitar.

Ouvi seu grito,
e a correria começar,
uma bolsa estourar,
tremia de medo ao sentir sua dor a gritar.
E uma mão me pegar.

Quem queria do calor dela me tirar?
A raiva começou a apertar,
dela não quero mais largar,
o amor que ela ensinou em mim está,
mas ele continuou a me tirar,
chorei ao sentir o ar,
mas acalmei ao sentir seu olhar a me admirar,
e seu amor em mim eternizar.

Entendi o verdadeiro amor de mãe que tanto eu escolhi
e nos seus braços eu percebi
seu coração explodir
de emoção ao me sentir,
e ali eu permaneci
e naquele coração para sempre eu vivi.

Mãe!
Hoje eu vou sorrir
por que no seu coração eu sempre vou existir.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Só por hoje...


Era um domingo qualquer desses domingos que não chove e nem faz sol e a garoa fininha roubava toda cena. Estava em casa. Minha mãe, vaidosa que é, foi passear no shopping comprar um modelo novo de sandálias. Meu pai trancado no escritório relendo relatórios enquanto eu no sofá trocando canal da televisão. Peguei o telefone e liguei para um amigo. Maldito telefonema, pois ali começou tudo! Nos encontramos em uma praça. Era estréia da banda de um amigo nosso e eu nos meus dezesseis anos de vida, nunca tinha fumado nenhum cigarro.
Fiquei assustado quando olhei todos vestidos de pretos e eu de camisa laranja, eles deram risada, mas me aceitaram no grupo e fomos para a festa.
Estava empanturrado de tanto beber, mas não poderia parar, afinal, eu sou um homem e um homem não pode parar de beber primeiro que o outro!
Um da mesa sacou um saco plástico com um pouco de pó branco dentro. Eu não sabia o que era, mas era algo muito bom pela gritaria de todos. Ele tirou um cartão fez várias carreirinhas e cada um cheirava um pouco. Percebi que era droga. Ao chegar a minha vez, lembrei das palavras do meu pai:
- Droga é ruim, não entre nessa!
Fiquei parado olhando para a droga e toda a mesa me olhando.
- Vai amarelar? Ou melhor, com essa camisa é “laranjar”. Todos caíram na risada.
Eu desistir de alguma coisa? Nunca! Eu sou um homem!
Abaixei e cheirei tudo até o final e fui aplaudido. Senti meu nariz arder, meu corpo mudar, fiquei mais leve. Fui me soltando mais, sentindo mais divertido, mais alegre, subiu uma sensação de alegria, e aquilo foi ficando cada vez melhor e melhor. Era uma sensação que não conseguiria explicar; um êxtase de um orgasmo multiplicado em dez vezes.
Meu pai era um imbecil! Droga é a melhor coisa do mundo. Ficamos ali cheirando a noite toda e aquela foi a melhor noite da minha vida.
Acordei no outro dia em casa com minha mãe brigando comigo, uma dor de cabeça e uma ressaca infernal, prometi para mim mesmo que nunca mais ia beber.
Lembrei da droga e minha mente queria mais, pedia aquela sensação de novo.
Liguei para meu amigo e ele me explicou como encontrar a droga. Depois daquele dia virei freqüentador nato de favelas e mergulhei de cabeça no sonho que as drogas me davam: se meu time perdesse, eu usava porque estava triste; se ele ganhasse, eu usava para comemorar.
Cheguei a um ponto que não era eu que usava a droga, mas sim ela que me usava. Eu não trabalhava e o único jeito de conseguir dinheiro era roubar a carteira do meu pai, a bolsa da minha mãe, e quem leva a culpa era a empregada.
Ganhei um tênis da Nike original do meu pai de aniversário, não sei quantas molas, caríssimo. Vendi na boca por cinqüenta reais e cheirei-o em um dia. Vendi tudo que tinha. Até a televisão do quarto eu cheirei na boca. Emagreci, perdi ano na escola, minha mãe entrou em depressão, meu pai não falava mais comigo e não tinha amigos.
Precisava cheirar e não tinha dinheiro. Rasguei a roupa, fiquei descalço e saí pedindo dinheiro na rua, o que consegui não dava para comprar a droga.
Conversei como dono da boca, ele deixou para pagar no outro dia. Porém, no outro dia queria mais droga e o dinheiro que arrumei não dava para pagar a do dia anterior. Esperto que sou! Pensei em partir para outra boca.
Ontem o dia estava quente, sai para passear sem rumo; estava chegando na porta da casa da minha namorada quando o traficante me achou me deu um soco que me fez cair no chão e me jogou dentro do carro.
Chegamos em um galpão. Ele começou a me bater que quebrou três costelas minhas, me colocou de joelhos e com a arma apontada na minha cara, pedia o dinheiro dele. Eu não tinha mais nada de valor; comecei a chorar a pedir desesperadamente pela a minha vida. Sentia o ódio dele em cada palavra que gritava no meu ouvido.
Sabia que ia morrer!
Sentia a bala entrando na minha cabeça, gritava, mas ninguém me ouvia. Os que estavam ali com ele começaram a dar risada; pensei em como o mundo das drogas é cruel: as pessoas sempre estão dando risadas de você, comemoram quando você entra e também dão risada pelo seu fim. Fechei os olhos esperando a morte quando ouvi a voz da minha namorada gritando:
- Não faça isso pelo amor de Deus!!!!
Abri meus olhos e não conseguia enxergar direito mais a reconheci; fiquei pior ainda, pois a única pessoa que não me abandonou iria morrer pelo meu erro.
O traficante pegou-a:
- Que bonitinho vai morrer juntos!
- Por que vai matar meu namorado?
- Ele me deve!
- Deve quanto?
O cara que ia me matar nem sabia do valor que eu o devia. Pegou o caderninho dele e verificou o meu nome
- Doze reais.
Eu comecei a chorar. Minha vida valia dozes reais.
Ela gritou:
- Eu pago! Eu tenho dinheiro!!
O traficante virou e disse para mim:
- Deveria matar você somente pelo fato de tentar me enganar. Mas a sua namorada me fez lembrar da minha que está grávida e em nome dela vou atender o pedido da sua.
Ele virou e foi embora.
A essa hora era para eu esta no caixão e minha namorada chorando no meu velório. Mas graças ao amor da minha namorada me livrei da morte. Contudo, busco me salvar do mal que me mata todos os dias um pouco: as drogas.
Sempre há uma chance de recomeçar!
Essa história eu criei. A sua está nas suas mãos. Se você não conseguir sozinho, procure um N. A. (Narcóticos Anônimos).