domingo, 30 de outubro de 2011

Reflexo da vida.




O desempenho moral de uma vida garrida de sofrimento amargo de desilusão, firmado pela tristeza de um dia frio de domingo.
Sentado na área com sua cadeira de balanço, ouvindo o silêncio do vento batendo no seu rosto. O gato dormia encostado no seu cachorro vira-lata que estava com a cabeça no chão, porém o observava.
Lembranças marcavam sua memória cansada. Lembrou da época da faculdade. Do telefone tocando e informando que ele havia passado no teste, começa sua carreira profissional.
Todo assustado não entendia por que chefe tem que gritar e se assustou com o ambiente de trabalho, com a correria. O problema do ser humano é que se acostuma com tudo, e com ele não foi diferente. Formou-se, recebeu promoções e quando viu já estava gritando e foi quando percebeu que havia virado chefe.
O gato levantou se espreguiçou, banhou-se com a língua, miou algumas vezes e se foi, o cachorro continuava deitado observando-o. Ele pigarreou a garganta. Ganhou uma tosse pelos anos de cigarros consumidos e metade de um pulmão perdido.
Conseguiu o cargo de chefia muito cedo, e para isso trabalhava em torno de quinze horas/dias. Ficamos felizes quando a empresa nos da um celular com conta paga, um notebook, mas não entendemos a mensagem subliminar que diz: Dei-te o celular para manter conectado direto com a empresa, mantêm o sempre ligado. E o notebook é o melhor, foi à forma com que a empresa achou de aonde for o trabalho lhe acompanhar. Mas ganhar um celular, um notebook alimenta nosso ego, e as empresas sabem como esses gestos trazem resultados.
O cachorro levantou e ficou olhando para ele como se reprovasse o ato de ter ascendido um cigarro, foi expressamente proibido de fumar pelos médicos, mas deveria ter parado aos vinte anos atrás quando ainda havia jeito, agora não adiantava mais, o cigarro já havia destruído seu corpo por dentro e parar não ia trazer seu pulmão de volta.
Estava no auge, havia conseguido o cargo de gerência, saiu da empresa para comemorar, pegou o celular, pesquisou na agenda e percebeu que só havia contato de trabalho. Sem amigos, namorada, colegas. Teve a idéia de arrumar uma namorada. Havia se apaixonado por uma menina, mais descobriu que ela não era formada e resolveu seguir o seu princípio: Pessoas de sucesso se relacionam com pessoas de sucesso, resolveu terminar o namoro e não encontrou ninguém que tivesse o mesmo sucesso dele. Lembrou de uma gerente de outra empresa que mantinha contato e resolveu ligar. Ambos pensavam iguais, primeiro a carreira profissional depois o relacionamento, e nessa frieza de sentimentos se casaram.
A nostalgia trouxe uma lágrima que escorria na pele enrugada. O cachorro continuava a observar, o gato voltou comeu a comida e entrou na casa. O mais triste da vida são as marcas que nos deixa. Conseguimos enganar até os mais espertos, mas não enganamos a nós mesmo.
A consciência nos cobra nos exprime e a dele fazia agora. Ascendeu outro cigarro e mergulhou nas lembranças.
Resolveu trabalhar mais porque queria o cargo de diretor. Sempre foi uma pessoa dedicada à empresa e não demorou muito para conseguir o cargo.
Pensava em aumentar a família, porém sua esposa não queria: - Ter filhos engorda e vai atrapalhar minha carreira, dizia a. Ele entendeu a esposa, também precisava se dedicar ao novo cargo.
O domingo tem a sua monotonia e com chuva fica mais medonho. Com dificuldade ele fechou a blusa se exprimiu mais no acento da cadeira buscando se aquecer, o gato deitou nos seus pés e o barulho do vento aumentava e a garoa dançava no ar.
A sua esposa teve uma parada cardíaca sentada na sua cadeira executiva, a empresa mandou uma coroa de flores e postou uma nota em um jornal, tranqüilizando os investidores que logo escolheria outro executivo a altura dela.
Apagou o cigarro e seus olhos fixaram na garoa. Outra coisa cruel da vida é que a velhice chega e com ela todas as coisas que não fizemos são mostradas em cada ruga expostas no rosto.
Fica o apelo desse velho cansado e doente.
Ame mais e mais quantas vezes forem necessários e quantas pessoas for preciso. Não perca tempo com coisas pequenas, como ciúmes, ódio, inveja, cada um está no lugar que deseja e você está no lugar que escolheu estar.
Aprenda que o tempo vai passar independente que você faça ou não alguma coisa para mudar a sua vida.
Tudo que faça tem cinqüenta por cento chances de darem certo ou errado, então não se culpe se deu errado, faça o que tenha de ser feito e pronto!
Se pudesse dar um conselho diria: “Não fume! O cigarro é um prazer gostoso que lhe consome e lhe mata por dentro e quando você mais precisar de ar irá perceber que não consegue respirar”.
O gato levantou e foi para o sofá. O cachorro o acompanhou, e seu único companheiro era o barulho da cadeira de balanço e a presença do frio da garoa gelada, ascendeu um cigarro e ficou a observar o movimento da chuva.



2 comentários:

  1. MUITO BOM!!! ESPETACULAR EU DIRIA... Quantas vezes na vda precisamos fazer escolhas, e sempre pensamos será que vai dar certo? será que é o melhor caminho? E quantas outras deixamos nosso ego falar mais alto, ou até mesmo nosso egoísmo... POis é mas esquecemos que a vida toda plantamos e colheremos um dia!!!!!

    AMEI


    BEIJOS CAMIS

    ResponderExcluir
  2. Belíssima produção, poeta! Parabéns!
    Vim te fazer um convite. Espero que goste...
    Eu tive uma ideia inquietíssima: criei no Palavra Inquieta, um espaço para as produções textuais dos "filhotes" das minhas seguidoras: O Palavrinhas Inquietas, onde os Inquietinhos poderão se expressar e receberão tratamento de grandes escritores. Gostou? Passa lá e confere os detalhes da iniciativa, se gostar participe e me ajude a divulgar, tá? Vale tbm para sobrinhos, netinhos e afins das seguidoras. Bjs inquietos pra vc!
    http://ajacomelli.blogspot.com

    ResponderExcluir